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Um paciente participante de um estudo conduzido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) apresentou um dos casos mais promissores já registrados de remissão do HIV sem necessidade de transplante de medula óssea. Identificado como P13, o voluntário conseguiu manter a carga viral indetectável por 78 semanas — cerca de um ano e meio — após a suspensão do tratamento.
O estudo envolveu 30 homens latinos-brancos, com idades entre 23 e 58 anos, submetidos a diferentes combinações de terapias. As estratégias incluíram intensificação dos antirretrovirais, uso de medicamentos para reativar o vírus latente, drogas capazes de induzir a morte de células infectadas e até uma terapia celular personalizada, considerada uma “espécie de vacina” feita a partir das próprias células do paciente.
Avanços e desafios
Dos 26 voluntários que aceitaram interromper o tratamento, 25 tiveram retorno da carga viral em até 14 semanas. Apenas P13 apresentou resposta prolongada, voltando a ter vírus detectável somente após 78 semanas.
Segundo o coordenador da pesquisa, infectologista Ricardo Sobhie Diaz, o estudo representa um avanço importante:
“O objetivo era investigar alternativas para curar a doença ou, pelo menos, aproximar as pessoas da cura, diminuindo o número de células que hospedam o HIV no corpo.”
O paciente também apresentou um resultado surpreendente: reversão da idade epigenética em cerca de 15 anos, indicando que seu corpo biologicamente rejuvenesceu durante o tratamento — algo incomum em portadores do HIV, que costumam apresentar envelhecimento acelerado.
Segurança e próximos passos
Durante o período de observação, não foram registrados efeitos colaterais graves. O tratamento se mostrou seguro, não comprometendo a imunidade dos voluntários.
A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética da Unifesp e contou com consentimento por escrito dos participantes. Agora, os cientistas se preparam para uma nova fase de estudos, em que todos os voluntários receberão as quatro intervenções combinadas — e P13 voltará a participar.
Diaz destacou a importância da continuidade:
“A ciência avança aos poucos, passo a passo. Não é algo que terá sucesso imediato, mas estamos caminhando com segurança para garantir que os tratamentos possam ser aplicados a um número cada vez maior de pacientes.”
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