Agência Rondônia

Mensagens de WhatsApp revelam Comando Vermelho e rotina do líder “Doca”, principal alvo da Operação Contenção

Mensagens de WhatsApp revelam Comando Vermelho e rotina do líder “Doca”, principal alvo da Operação Contenção


Investigação do MP-RJ e da Polícia Civil expõe rede de comunicação usada por chefes da facção para dar ordens, definir plantões e organizar o tráfico nas comunidades do Alemão e da Penha (foto © Shutterstock)

As investigações da Operação Contenção, considerada a maior ação policial da história do Rio de Janeiro, revelaram que os principais líderes do Comando Vermelho (CV) utilizavam grupos de WhatsApp para coordenar as atividades da facção, emitir ordens e decidir os rumos do tráfico nas comunidades. Prints das conversas foram anexados à denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), com base nas apurações da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE).

As mensagens mostram uma estrutura hierárquica organizada e uma rotina de vigilância constante nas áreas dominadas. O líder máximo, Edgar Alves de Andrade, conhecido como “Doca”, era o centro das decisões e alvo principal da operação. Foragido há sete anos, Doca acumula 273 anotações criminais e 32 mandados de prisão em aberto.

Rede criminosa organizada por aplicativos

Segundo o relatório da DRE, homens de confiança de Doca eram responsáveis por determinar as escalas de plantão, a segurança pessoal do chefe e a movimentação financeira do grupo. Entre os nomes mais citados estão Pedro Paulo Guedes (“Pedro Bala”), Carlos Costa Neves (“Gardenal”) e Washington Cesar Braga da Silva (“Grandão”) — todos com funções estratégicas no alto comando do CV.

Em uma das mensagens, Gardenal, responsável pela segurança de Doca, dá ordens diretas sobre o acesso à casa do líder, conhecida como “Toca do Urso”:

“Rapaziada, pegar a visão aqui no portão do pai, ninguém entra armado aqui dentro da casa e ninguém entra sem autorização. Samuca e Tizil ficam responsáveis aqui na porta.”

Gardenal também orientava os subordinados sobre disciplina interna:

“Frisar bem o papo, não pensa com o coração e nem amizade. Isso é o crime.”

Já Grandão, considerado o “síndico” da facção, gerenciava a parte administrativa e os bailes do Comando Vermelho, além de divulgar escalas de vigilância e informações financeiras. De acordo com a polícia, ele chegou a usar a rede social X (antigo Twitter), onde tinha mais de 30 mil seguidores, para promover enquetes sobre atrações musicais dos eventos organizados pela facção.
 
Conversas revelam controle total da facção

Os diálogos obtidos pelo MP mostram que ninguém agia sem a autorização de Doca ou de Pedro Bala.

“Ninguém dá tiro sem ordem do Doca ou do Bala. Vamo pegar a visão”, dizia uma das mensagens interceptadas.

Soldados relatavam suas rotinas em tempo real, informando sobre movimentações de viaturas policiais, entrada de moradores e recolhimento de lucros do tráfico. Em uma conversa, um membro cita a chegada de um mensageiro para buscar o pagamento de um integrante preso:

“Chegou um menor pra pegar o pagamento de Belão do Quitungo.”

Quem é Doca, o chefe mais procurado do Rio

Apontado como principal líder do Comando Vermelho em liberdade, Doca é descrito como violento e estratégico, responsável por ordenar enfrentamentos com forças de segurança e roubos de veículos e cargas. Em 2021, foi investigado por planejar o resgate de presos de Bangu com um helicóptero e por autorizar a tortura e o assassinato de três crianças em Belford Roxo, em 2020.

Mesmo foragido, Doca leva uma vida de ostentação dentro da favela — gosta de ouro e motocicletas — e é citado em letras de funk que exaltam a chamada “Tropa do Urso”, grupo responsável por tentar expandir o domínio da facção.

Segundo o MP-RJ, ele comanda o tráfico na Vila Cruzeiro e no Complexo da Penha ao lado de Pedro Bala há pelo menos 10 anos. Documentos policiais indicam que Bala liderou a facção entre 2015 e 2016, quando foi substituído por Doca, mas ambos continuaram atuando juntos.
 
Recompensa e nova fase da operação

O Disque Denúncia do Rio de Janeiro oferece R$ 100 mil de recompensa por informações que levem à captura de Doca. O cartaz foi divulgado nesta quinta-feira (30), um dia após o balanço que elevou para 132 o número de mortos na Operação Contenção.

A Polícia Civil e o MP-RJ seguem com as investigações sobre o comando digital do CV, que usava aplicativos de mensagens para controlar territórios, lavar dinheiro e ordenar ataques — transformando o WhatsApp em uma espécie de quartel virtual da facção.

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