
Mesmo com a quarta maior reserva mundial, país vê crescimento de mineração clandestina e risco para cadeia de veículos elétricos (foto © Nacho Doce / Reuters)
O Brasil possui a quarta maior reserva de manganês do planeta, um mineral considerado estratégico para a produção de baterias de veículos elétricos e para a indústria siderúrgica. Porém, grande parte dessa riqueza segue nas mãos de garimpeiros ilegais, especialmente no sudeste do Pará, onde se concentram as maiores jazidas do país.
Executivos do setor estimam que ao menos 30% da produção brasileira de manganês já esteja controlada por operações clandestinas. Essas atividades não apenas prejudicam a economia nacional, como também ameaçam o desenvolvimento de um mercado em expansão global — o de baterias para carros elétricos.
Além de danos ambientais, mineradoras relatam invasões constantes em áreas autorizadas, expulsão de vigilantes e até interrupção de projetos. Empresas como a Vale já chegaram a denunciar que invasões prejudicaram iniciativas entre 2012 e 2020.
A extração ilegal segue um padrão: os garimpeiros removem o minério com máquinas pesadas e revendem para empresas que comercializam o produto, muitas vezes exportando pelo porto de Barcarena (PA). O minério é vendido bruto, sem refinamento — processo caro e essencial para gerar produtos de maior valor, como o sulfato de manganês usado em baterias.
A diferença de preço evidencia o impacto econômico: enquanto uma tonelada de manganês comum custa cerca de R$ 300, o sulfato de manganês pode ultrapassar R$ 4.300 por tonelada.
Além do prejuízo direto, o avanço do garimpo ilegal fortalece estruturas criminosas. Cidades como Marabá e Parauapebas convivem com bairros dominados por grupos ligados à mineração clandestina, influenciando até cenários políticos locais. Casos recentes envolveram até figuras públicas investigadas por suposta ligação com garimpos irregulares.
Enquanto o mercado ilegal avança, o setor formal encolhe. A produção nacional caiu de mais de 3 milhões de toneladas em 2008 para apenas 537 mil toneladas em 2023, segundo dados oficiais. Grandes grupos se afastaram do mercado e operações foram vendidas ou entraram em falência.
Empresas que ainda atuam legalmente, como a RMB, afirmam que perderam milhões em reservas para garimpeiros e cobram ação mais efetiva das autoridades.
Diante do crescimento da demanda internacional por minerais estratégicos e do papel do Brasil nesse mercado, especialistas alertam que o país precisa fortalecer a fiscalização e garantir que o manganês seja explorado de forma sustentável, legal e com valor agregado — evitando que uma oportunidade econômica histórica se perca para o crime organizado.
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